Excerto de Ortodoxia de G.K.Chesterton
Mas talvez Deus seja forte o suficiente para exultar na monotonia. E possível que Deus todas as manhãs diga ao sol: "Vamos de novo"; e todas as noites à lua: "Vamos de novo". Talvez não seja uma necessidade automática que torna todas as margaridas iguais; pode ser que Deus crie todas as margaridas separadamente, mas nunca se canse de criá-las. Pode ser que ele tenha um eterno apetite de criança; pois nós pecamos e ficamos velhos, e nosso Pai é mais jovem do que nós. A repetição na natureza pode não ser mera recorrência; pode ser um bis teatral. O céu talvez peça bis ao passarinho que botou um ovo.
Se o ser humano concebe e dá à luz uma criança e não um peixe, ou morcego, ou grifo, a razão talvez não seja o fato de estarmos presos num destino animal sem vida ou propósito. Pode ser que nossa pequena tragédia tenha emocionado os deuses; pode ser que eles a apreciem de seus camarotes estrelados; pode ser que no fim de cada drama humano o homem seja chamado repetidas vezes a voltar ao palco. A repetição pode continuar por milhões de anos, por mera escolha, e a qualquer instante pode parar. O homem pode permanecer sobre a terra geração após geração, e, no entanto, cada nascimento pode definitivamente ser sua última aparição.
Essa foi minha primeira convicção; criada pelo choque de minhas emoções infantis com o credo moderno, sendo eu já veterano. Vagamente eu sempre sentira que os fatos eram milagres no sentido de que eram maravilhosos: agora começava a considerá-los milagres no sentido mais estrito de que eram voluntários. Quero dizer que eram, ou poderiam ser, exercícios repetidos de alguma vontade. Em resumo, eu sempre acreditara que o mundo envolvia uma mágica: agora achava que talvez ele envolvesse um mágico. E isso apontava para uma emoção profunda sempre presente e subconsciente; de que este nosso mundo tem algum propósito; e se há um propósito, há uma pessoa. Eu sempre sentira a vida primeiro como uma história; e se há uma história há um contador da história.
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